Desde que
assisti ao filme “Joker” (Coringa – 2019) fiquei muito intrigado com a
mensagem, tentando entender a metáfora utilizada, no intuito de conseguir fazer
uma relação com a nossa realidade.
Creio que a
leitura deste artigo somente aproveita àqueles que já viram o filme, porque não
vou narrar ou descrever os fatos e cenas do longa-metragem, mas fazer uma
reflexão sobre a metáfora e a realidade.
Somente para contextualizar,
o filme trata da história de um cidadão comum de uma cidade grande e violenta,
que é marginalizado e hostilizado a tal ponto, de forma tão desumana, que ele
acaba se tornando um sociopata, tamanha sua revolta, passando então a praticar
as mais atrozes maldades, sem se importar, ou seja, perdendo totalmente a
empatia.
O mundo tem se
tornado um lugar muito hostil por diversos motivos, tais como escassez de
recursos naturais, excesso populacional, desrespeito ao meio ambiente, falta de
crescimento econômico, aumento da pobreza, fatores que, entre outros, fazem
aumentar a níveis insuportáveis a competitividade, o stress, sem falar nos
problemas sociais mais graves como a falta de saúde, segurança, empregos,
educação, dentre outros tantos, que não precisam ser elencados, uma vez que a
ideia que se quer demonstrar está posta.
Alguns se
sensibilizam com a história de Arthur e se revoltam, torcem por ele e vibram
com a sua vingança. Outros, por outro lado, se indignam pelo fato de que as
condutas que o personagem vem a tomar são severamente reprováveis. Não tenho a
intenção de julgar as condutas ou entrar em qualquer mérito sobre o que é certo
ou errado, portanto estes julgamentos não são de grande valia, mas apenas
elementos contextualizadores.
Refletindo um
pouco sobre o quadro é possível com a mínima abstração entender que o Coringa é
caricato, não se trata de outra coisa senão de um exagero da sociedade. Todos os
personagens do filme são “Coringas”, tal como muitos de nós, cidadãos de bem.
O que é um
Coringa senão alguém que tem total ausência de empatia com os demais? Quando
alguém acelera o carro para impedir alguém de conseguir alcançar uma saída numa
via expressa, quando alguém deixa de ajudar uma idosa com dificuldades de
atravessar a rua ou de ler um rótulo no supermercado, quando alguém para o
carro numa vaga de deficientes, quando alguém alega hipossuficiência financeira
para conseguir vantagem no vestibular, quando alguém some com um documento
importante de um colega de trabalho, enfim, podem ser exemplificadas aqui
milhares de condutas que identificam um Coringa da sociedade real. O que é pior
se dá pelo fato de que estas condutas transformam outros tantos cidadãos de bem
em Coringas também, com o tempo.
A metáfora é a
falta de empatia provocada pela falta de empatia, numa relação cíclica e em
cadeia, que torna a sociedade, dia após dia, um lugar cada vez mais repugnante.
Independente da relação que o filme provoca em cada um, o importante é
conseguir identificar que certas condutas, tais como as descritas no parágrafo
anterior, devem ser interrompidas o quanto antes, ou o mundo ficará habitado
completamente por sociopatas, que irão em seguida desaparecer por conta de sua
própria torpeza.
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