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DARWIN X PACTO SOCIAL





Semana passada conversei com um estudante de direito, um rapaz aparentemente de família tradicional, que inclusive disse que o pai era médico. Perguntei o motivo pelo qual ele tinha escolhido o direito e qual carreira pretendia seguir. Ele me respondeu que havia escolhido o direito porque queria ter muito dinheiro e poder, portanto ia seguir a profissão de delegado, acrescentou “quero estar por dentro dos esquemas”.

Questionei o fato de ele querer se engajar em um cargo público com o intuito de “fazer esquemas” para enriquecer e ele me disse que o pai o havia ensinado que não há como ser de outra forma, porque na vida ou você tem fortuna ou você será um coitado, sendo que, não importa o que precise ser feito para alcançar o poder e a riqueza. Citou Maquiavel e disse que “os fins justificam os meios” e que ele tinha que destruir os demais antes que estes o destruíssem.

Num primeiro momento, pareceu-me preocupante que um jovem queira destruir os demais para não ser destruído, valendo-se de um cargo público para enriquecer às custas de ilegalidades, pelo dinheiro de criminosos e o que é pior, realizando conchavos para garantir a impunidade.

Causam espanto as declarações e a sinceridade do rapaz, soam como sintomas de psicopatia, pela característica amoral com a qual as intenções são apresentadas, mas isto ocorre apenas num primeiro momento, porque pensando um pouco sobre a questão podemos concluir que apenas se trata de um jovem que cresceu numa sociedade onde há sim a necessidade desta conduta, ou seja, o indivíduo tem que agir desta forma para evitar ser destruído, ou seja, evitar passar vida inteira trabalhando como um escravo de uma corporação qualquer, abrindo mão de todos os sonhos e objetivos.

Não concordo com a postura adotada perante a vida e a sociedade pelo rapaz, mas tenho que admitir que é a conduta do “mais bem adaptado”, como diria Darwin, o que lhe torna mais capaz de sobreviver e ter êxito. Obviamente as consequências de atitudes como essa serão catastróficas para a humanidade, ou seja, assim agindo, certamente se levaria à instauração do caos e à extinção, no médio prazo.

O pacto social foi extinto, não há mais acordo, os jovens sabem disso, porque analisaram o fracasso das gerações anteriores em promover o bem comum. Sendo assim, questiono, até que ponto as condutas são um reflexo do que a sociedade impõe, ou o inverso? Na minha opinião, o que ocorre é ação e reação.

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