Não há como combater o mal que é feito,
tão pouco é possível que seres malignos evoluam, então, por que perder tempo,
que tarefa hercúlea seria esta, ou apenas um castigo sisifal?
Cada dia é um martírio infinito
para uma causa sem solução, como ficar sofrendo e se penalizando para um ser
maligno parar de ser nocivo, quando o sujeito diz que não está preocupado e não
se solidariza, dizendo que gosta de viver da forma como vive. Não há o que dê
jeito em alguém que está plenamente satisfeito em agir de acordo com suas próprias
escolhas e convicções. Não é ignorância, tão pouco falta de oportunidade, mas
contentamento, estranho, mas puro, contentamento.
Insistir em fazer o certo, ou
achar que de alguma forma o sofrimento vai ser reconhecido, ou mesmo promover
vingança, nada disso é capaz de fazer o sujeito convicto a mudar a opinião. Esta
é aceitável, apesar de totalmente bizarra, torpe, não há porque não aceitar.
Importante é dizer que aceitar que alguém tem razões e opiniões diferentes não
é concordar com o que é dito, muito menos aceitar as atitudes provenientes. Aliás,
cada um pode ter a opinião que quiser, mas não pode agir de qualquer forma que
quiser, existem limitações éticas e morais, existe a Lei de Deus e a dos
homens, ainda que tudo isso seja ignorado, não é permissivo hábil. Eis o ponto
crucial de todo o imbróglio, que é alguém achar que pode fazer coisas sujas e
torpes, sob o arrimo da justificativa de que é de sua própria convicção.
A questão ainda se torna mais
complexa e problemática quando a conduta é repreensível e o sujeito, sabendo
disso, torna-se muito mais vil e ardiloso, de modo a evitar qualquer repreensão
ou penalização por seus atos. Existe uma maioria crescente de pessoas que
descobre a delícia de ser um ente maligno. Não são morais, nem imorais, são
totalmente amorais, ou seja, não tem algo que os oriente, senão a busca por
vantagem, geralmente riqueza e promoção social.
Quando Nietzsche sustentou que
Deus estava morto acredito que esta era a grande advertência, a maior
preocupação de todas. Num mundo onde o temor divino, por tempos capaz de frear
o instinto selvagem do ser humano, não existe mais, resta apenas o estado de
todos contra todos que Hobbes temia, a vontade de potência total e plenamente
sem oposição.
Os malignos galgam o poder
facilmente, através de conchavos, alianças forjadas com a segurança de que um
encobre a sujeira do outro, ou seja, ninguém jamais trai um aliado e comparsa
de perversão, porque seria certamente agir contra si também.
Com o poder nas mãos não há o que
se consiga fazer contra os seres que escolhem as trevas, porque não se sujeitam
a nada, nem às leis, tão pouco à moral ou quiçá a ética. Escondem-se atrás da
máscara da santidade, da família e dos bons costumes, escondem-se frequentando
igrejas e fazendo doações aos pobres, principal e facilmente colocam-se atrás
dos próprios filhos e crianças, fazendo crer que são bondade pura. Tudo não
passa de uma farsa, uma grande trapaça, os chamados lobos em pele de cordeiro
vestem-se com cruzes e louvam a Deus diante de todos para fazer crer que são
santos terrestres, que venceram por sua fé e devoção.
Muito bem disfarçados e empoderados,
cheios de riqueza, tratam de destruir todo e qualquer sujeito que seja ou
aparente ser um óbice aos seus desígnios. Não importa o que precise ser feito,
envenenamento, marginalização social, acusação falsa da autoria de um crime
hediondo, promoção do enlouquecimento da pessoa com a inoculação de químicos na
comida ou bebida, fofoca, na verdade, assassinato de todo tipo, social físico e
mental. Digo assassinato para abranger o que mata a reputação, o que mata a
sanidade mental, o que mata o ser na sociedade mesmo quando se está vivo, o que
mata até o próprio sujeito e o leva para o cemitério, matar em todos os
sentidos, entre outras mortes quais não imagino qual seria a pior.
O maligno quase nunca se dá mal,
porque quando isso acontece, ele aproveita para aprimorar sua raiva e sua
técnica vil de modo a retornar e promover vingança, além de fazer novamente toda
a sujeira para conseguir “estar por cima” novamente. Ainda que seja penalizado
ou punido mil vezes, mil e uma vezes fará o mesmo, não se trata de outra coisa
senão a opção, o prazer, a escolha por este tipo de existência.
Pode parecer que estou falando de
presos, bandidos, criminosos de todo tipo, mas não, estes são apenas uma porção
do todo maligno. Estou falando é de pseudo-“pessoas de bem”, que desfilam na
sociedade cobertas de luxo e esbanjando ostentação. Não se trata de dizer que
luxo é errado, tão pouco ostentar – que acho errado, mas tolerável, sim se
trata de fazer isso com os frutos colhidos com a atividade de destruir a vida
alheia, de escravizar, explorar, promover como dito acima, o assassinato
social, físico e mental de seu semelhante com a finalidade de conseguir riqueza
e ascensão social.
O outro lado deste tipo de
conduta é que, por exemplo, uma metáfora, num jogo de cartas, quando um trapaceia
e leva vantagem sobre os outros, ainda é possível a existência e continuidade
do jogo, mas quando todos os outros, deparando-se com a situação de trapaça,
impunidade e vantagem, decidem trapacear também, a existência e continuidade do
jogo se torna impossível. Eis o que penso ser o motivo do colapso da sociedade,
a razão de seu declínio, a decisão que rompe de uma vez por todas o pacto social
em sentido Rousseauniano, o impulso inicial do estado de todos contra todos. Na
medida em que mais pessoas optam pela malignidade, seja para levar vantagem, ou
pelo menos deixar de perecer, a vida vai se tornando impossível. Ilustradamente
seria dizer que o mal de tão grande, começa a passar fome e acaba comendo a si
mesmo, uma serpente que vai engolindo o próprio rabo. Se ninguém trabalha e
todo mundo é ladrão, chegará um tempo em que não haverá ninguém pra ser
roubado. Ainda assim o mal é convicto, porque quando um maligno é questionado
sobre este argumento, imediatamente diz: até lá eu vejo o que eu faço! Como se
houvesse sempre um subterfúgio capaz de fazer prevalecer a situação
perpetuamente.
A situação que realmente importa
é como poder viver num mundo onde não há ética, muito menos paz, para quem
decide viver sem ser maligno. Não é dizer que o maligno tem paz, mas dizer que
este optou por não ter porque somente se beneficia com o caos instaurado. O não
maligno, por sua vez vive refém do mal, em trabalhos mal remunerados que mais
se assemelham à escravidão, ou falindo um negócio próprio porque não tem como
competir com outros que não pagam tributos ou direitos trabalhistas, uma vez
que estes sempre terão margens de lucro gigantescas, ou seja, trapaça travestida
de genialidade comercial.
Muito elegante seria dizer que os
bons deveriam se unir e jamais comprar coisas de gente ruim, ou mesmo não
trabalhar para pessoas malignas, ou ainda enfrentar a falência sem deixar de
ser honesto. Pragmaticamente seria apenas agradar ao leitor, porque o motivo
desta reflexão é exercitar a mente, força-la a imaginar possíveis soluções para
algo que desde os primórdios tem sido um problema. Civilizações inteiras
pereceram por sua malignidade, em vão, porque nada mudou com a civilização
seguinte, sucessora que acabou sempre fazendo o mesmo que a anterior. Escravidão,
exploração do mais frágil, guerra, aniquilação de quem se opõe ou não pensa do
modo desejado, ou não se sujeita, entre outras tantas coisas que vão se
repetindo continuamente. O mal substituindo o mal para fazer o mal e sendo substituído
por outro mal...
Seria a opção para o não-maligno
perecer? Um Deus bom e justo gostaria que alguém desistisse e se entregasse?
Gostaria que a vida fosse totalmente à mercê da injustiça, numa resignação
conscientemente instaurada pela falta de opção? Seria então esperar em Deus a
abertura dos portões do Céu para quem, diante de tanta maldade, não se deixou
corromper? Tudo isso me parece igualmente maligno porque permanecer inerte e
aceitar que o mal seja feito ao léu, sem oposição, seria o mesmo que de pretender
o paraíso pela torpeza, o que é igualmente inaceitável juntamente com a
malignidade. Seria pretender se vitimizar propositadamente para poder conseguir
a “pulseirinha” do mundo celestial, o que é inadmissível. Ninguém deve se
beneficiar da própria torpeza!!!
Lutar pelo bem e perder batalhas
contra pessoas malignas seria a verdadeira redenção neste mundo? Esta questão
retórica nos leva a pensar que talvez seja esta a finalidade de se provar digno
de algo celestial, qual seja, não concordar com o mal e combate-lo, pelo
simples fato de que em seu coração o que é maligno é errado, independentemente
da obtenção ou não de uma vantagem ou promessa. Buscar não o bem, não a
vantagem, não a vida regada a prazeres, não a vitória, mas somente fazer o que
é certo! Se de alguma forma a pessoa conseguir alguma vantagem, prazer ou
vitória, isso seria um fato acessório, porque a razão de tudo é fazer o que é
certo, o que é bom.
Grandes prazeres vêm na maioria
das vezes de coisas simples como brincar com os filhos, tocar um instrumento
musical, cantar, dançar, conversar com amigos, fazer uma caminhada, estar em
contato com a natureza, tomar um banho de mar, tomar um banho relaxante, comer
uma fruta, beber uma água bem geladinha pra espantar o calor, uma limonada,
comer batata frita, aprender a andar de bicicleta, ou de skate, resolver voar
de asa delta, ou jogar xadrez, costurar uma roupa bem bonita, engraxar os
sapatos que tanto gosta, tudo isso, não exige riqueza nem glória e supera
infinitamente em satisfação.
Não é dizer para não ter uma Ferrari,
mas dizer que não é o carro esportivo que traz felicidade, mas o prazer de
dirigir. Cada um pode ter ou fazer o que quiser, desde que isso não esteja
diretamente vinculado com uma atividade de ataque físico, mental ou social
contra seu semelhante.
Muitos culpam a mídia pela
futilização e torpeza da sociedade, mas a mídia não é senão o reflexo de um
narciso deformado pela própria malignidade. Aos porcos agrada a lavagem e às
hienas agrada a carniça, ou seja, somente faz sucesso o desserviço da televisão,
do cinema, mídia em geral, porque a sociedade já está quase que totalmente corrompida
em seu caráter. Político não merece palmas, merece uma chamada oral onde é
clamado a demonstrar que fez o que prometeu. Se for corrupto merece ir para a
cadeia, jamais, jamais ser recebido como um notório e proeminente cidadão.
Outros vão dizer que tudo isso é
impossível e têm razão, tanto que Schopenhauer sustentou que a humanidade é
composta por vítimas e algozes, que ouso acrescentar, estes revezam-se nos papéis.
Por este exato motivo acredito que Nietzsche foi além, quando demonstrou que o
homem está metaforicamente demonstrado como alguém numa corda bamba estendida
sobre um abismo. Também acrescento que já foi impossível crer que a terra não é
o centro do universo e que não é o sol que gira em torno da terra. Da mesma
forma que não se acredita mais que a terra seja plana, que não existe meios de
se construir uma máquina capaz de voar, que já foi possível um foguete
tripulado chegar até a lua e voltar. São incontáveis as situações que podem
servir de exemplo para convencer os habitantes da caverna a deixar de olhar
para as sombras na parede e sair para conhecer o mundo maravilhoso que existe
lá fora, tal como Platão demonstrara.
Sim, já foi considerado impossível,
coisa de ficção científica, alguém resolver fazer uma caixinha, uma barrinha
com uma tela, onde é possível falar com pessoas do mundo todo em tempo real. Sem
alguém ter tentado o impossível não existiria aparelho de telefonia celular,
muito menos smartphones. O impossível se torna possível e depois se torna
corriqueiro, logo depois obsoleto. Alguém poderia imaginar que os belos
castelos medievais não tinham banheiro? Não havia. As pessoas faziam suas
necessidades no chão ou em recipientes! Como se poderia criar um sistema de esgoto,
impossível?
Não é algo fácil nem tem receita,
nem precisa ter, porque o erro é o caminho mais acertado quando se muda a atitude
errada e decide fazer tudo diferente da próxima vez. Errar é humano, paga-se o
preço e se tenta novamente, mas jamais insistir em condutas que se sabe ser
prejudiciais é fundamental. O sujeito faz uma coisa errada e decide fazer mais
coisas erradas para se manter impune, mas se isso não dá certo, ao invés e
mudar de atitude decide se vingar. Não é isso outra coisa senão ser carrasco de
si mesmo, um espinho no próprio pé e no pé dos outros. Evoluir não é ir além de
ser bom, é ter inteligência.
Promover a reflexão é importante
para que um dia seja possível chamar a malignidade de algo obsoleto, que caiu em
total desuso, cem por cento descartado da sociedade, que neste tempo futuro,
onde isso aconteceu, a paz é a última moda, as doenças são quebra-cabeças fáceis
de solucionar, saúde é riqueza e tempo, tempo pra o que gosta é o bem mais
apreciado por todos.
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